Crescimento alarmante da dengue em Cachoeira do Sul reflete crise nacional sem precedentes
- Magaiver Dias

- 4 de jun.
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O aumento expressivo dos casos de dengue em Cachoeira do Sul em 2025 — com 847 diagnósticos confirmados, mais de 2.600 notificações e quatro mortes registradas — não é um fato isolado. A cidade acompanha uma tendência preocupante que se repete em todo o Brasil, atualmente líder no número de ocorrências da maior epidemia de dengue já registrada nas Américas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o médico infectologista e diretor de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, José Moreira, um dos principais agravantes dessa onda epidêmica é a circulação simultânea dos quatro sorotipos do vírus da dengue — uma condição rara e potencialmente mais grave. “Além da presença de múltiplos sorotipos, temos o impacto das mudanças climáticas, que favorecem a proliferação do Aedes aegypti, vetor da doença”, explica Moreira.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicam que o Brasil tem registrado temperaturas superiores à média histórica desde os anos 1990. “Os invernos estão menos rigorosos e os verões cada vez mais quentes. Calor e umidade são elementos-chave para a multiplicação dos mosquitos”, acrescenta o especialista.

Outro desafio que se soma a esse cenário é a rápida adaptação genética do Aedes aegypti, que tem dificultado a eficácia de inseticidas e larvicidas convencionais. Segundo técnicos da área da saúde, esses produtos perdem efeito à medida que o mosquito desenvolve resistência — processo evolutivo que pode ocorrer em ciclos de até dois anos.
“O surto atual é resultado de múltiplos fatores. Entre eles, destacam-se as alterações climáticas, a urbanização acelerada, a circulação dos quatro sorotipos, a resistência aos métodos de controle e a vulnerabilidade social de uma parte significativa da população”, sintetiza o infectologista.
Realidade local agrava quadro epidemiológico
Em Cachoeira do Sul, os problemas estruturais e o baixo envolvimento da comunidade nas ações de prevenção agravam a situação. Embora mutirões de combate ao mosquito estejam sendo realizados com apoio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), os esforços ainda não são suficientes para conter o avanço da epidemia.
“O uso de larvicidas só é eficaz se o local estiver previamente limpo. A participação ativa dos moradores é crucial. Cada cidadão deve fazer sua parte para evitar criadouros dentro das suas residências”, destaca a secretária municipal da Saúde, Camila Nunes Barreto.
O histórico da doença no município evidencia a gravidade do cenário atual. Em 2022, houve um surto significativo, com 1.151 casos confirmados e três óbitos. No ano seguinte, os números despencaram — apenas 13 casos confirmados —, mas voltaram a subir em 2024. Já em 2025, os registros já superam anos anteriores, com quatro mortes, todas entre idosos.
Linha do tempo da dengue em Cachoeira do Sul:
2020: 03 notificações | 01 caso confirmado | 0 óbitos
2021: 11 notificações | 03 casos confirmados | 0 óbitos
2022: 1.649 notificações | 1.151 confirmados | 03 óbitos
2023: 278 notificações | 13 confirmados | 0 óbitos
2024: 1.728 notificações | 1.177 confirmados | 01 óbito
2025 (até junho): 2.640 notificações | 847 confirmados | 04 óbitos
Ações de conscientização intensificadas
Na tentativa de ampliar o alcance das ações preventivas, a Secretaria Municipal da Saúde vai distribuir material impresso no Bairro Tibiriçá, onde será realizado um mutirão nesta quinta-feira (5). A iniciativa busca reforçar a conscientização da população sobre a importância da eliminação dos criadouros.
A diretora da Vigilância em Saúde, enfermeira Andréa Santos, reforça que o controle da dengue depende de uma estratégia integrada.
“O controle mecânico, com a eliminação dos focos de reprodução do mosquito, é o mais eficaz e precisa ser adotado por todos, rotineiramente. Educação, saneamento, engajamento da comunidade e vigilância contínua são pilares indispensáveis”, pontua.
Com a epidemia em curso e os números em escalada, o apelo das autoridades é claro: sem a cooperação da população, será impossível reverter o avanço da dengue no município e no país.
















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